segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Portugueses em saldo

Este sábado experimentei participar num dos chamados "Open Days" que algumas companhias aéreas vêm fazer ao nosso país, por forma a recrutar pessoal de cabine (assistentes e comissários de bordo). Já há bastante tempo que andava com esse desejo e desta vez lá tentei a minha sorte. Agora o que eu jamais imaginava é a forma como as coisas se processam nos mesmos. No site dizem para quem estiver interessado estar no hotel x às 9 em ponto da manhã, vestido de forma formal e acompanhado do CV e de uma foto. Na minha inocência cheguei pontualmente e qual não é o meu espanto quando me dizem para me dirigir para o fim de uma fila de cerca de 400 pessoas que dava a volta ao quarteirão da rua do hotel. Ainda meio incrédula vi rapidamente atrás de mim chegarem num espaço de minutos mais umas centenas. No fim do dia disseram-nos que ao todo tinham sido 600 as pessoas que ali se deslocaram com o mesmo propósito. A fila andou e entrou no hotel a primeira leva do dia. Eu fiquei na segunda, cerca de 200 pessoas que esperaram cerca de 6 horas (sim chegámos às 9h e entrámos no auditório às 15h) na garagem do hotel, ambiente quente a tresandar a dióxido de carbono. Tanto tempo de espera serve para travar conhecimento com os companheiros de fila e rapidamente as conversas fluem, as pessoas tornam-se solidárias e revezam-se para ir almoçar. Saem sapatos de salto alto, saem gravatas, os cabelos desgrenha-se, a maquilhagem desaparece e o chão torna-se um lugar de descanso onde camisas brancas e saias tubo impecavelmente engomadas na noite anterior ganham vincos e nódoas. Percebi que a maioria eram pessoas dos 25 aos 35 anos, licenciadas, que ou estavam desempregadas ou como é o meu caso trabalhavam numa área que as frustava e onde eram mal remuneradas. Basicamente todos almejavam mudar de vida e invariavelmente sair do país, já que neste caso a companhia é sediada no Dubai. E ali estivemos, horas a fio sem reclamar, a suar em bica, o cansaço a acumular-se e o nervosismo a aumentar. Mas ninguém reclamava. Chegados ao auditório aguardavam-nos duas mulheres cuja nacionalidade não consegui decifrar mas com um inglês com sotaque carregado, que nos explicaram em cinco minutos os requerimentos para o lugar e que aquele dia apenas servia para entregarmos o nosso CV com uma foto e que dedicariam a cada pessoa cerca de 30 segundos, não mais. Chegada a minha vez entreguei o cv e respondi à única pergunta que me foi feita: se trabalhava no mesmo sítio há 5 anos porque queria agora mudar. Só tive tempo de balbuciar qualquer coisa como estar motivada a mudar de vida e a aprender coisas novas. Nem vinte segundos até ela me dizer "thank you for coming" e eu estar a caminho da porta sem perceber muito bem como tinha corrido ou o que raio se tinha passado ali. O que me surpreendeu e continua ainda a fazer-me "ruminar" foi o facto de comunicarem que as pessoas que passassem à segunda fase do processo, que decorreria no domingo, seriam contactadas por telefone até às 20h.  Mas que raio de técnica usam aquelas duas para em cerca de duas horas analisarem 600 Cvs e telefonarem para não sei quantas centenas a pedir que regressem? Será que é como naqueles concursos em que uma assistente mergulhava numa "piscina" de cupões e retirava à sorte o vencedor? Não entendo e acho que vou continuar sem resposta uma vez que não fui uma das felizes contempladas com o telefonema da sorte. Sinceramente não me importei muito, tirando o facto do desconforto que toda aquela espera causou. Não sinto que tenha falhado porque fiquei com a sensação de nem sequer ter tido uma oportunidade. O que conclui é que se todas aquelas pessoas estavam dispostas a deixar o seu país, as suas casa e aqueles que amam, com direito a apenas uma viagem por ano ao país de origem e com um vencimento mensal de 1870 euros,  definitivamente nós portugueses aos olhos dos empregadores estrangeiros estamos definitivamente em saldo.  


sábado, 10 de agosto de 2013

meu querido mês de Agosto.

Como diz a música, "há quem passe o ano inteiro a sonhar" com este mês. Eu a teme-lo. Desde sempre que o mês de Agosto é para mim assim uma espécie de travessia do deserto no calendário anual. Por outro lado, anseio o mês de Dezembro, o meu favorito. Para isso deve contribuir o facto de não gostar do verão, do calor nem de praia. Já piscina, adoro, mas isso agora é horizonte longínquo. Fica para quando a vida melhorar e eu puder viver num condomínio de luxo com uma ou enfiar-me uma semana num hotel 5 estrelas quando os termómetros disparam. Todos os anos trabalho em Agosto, sinto-me sempre em contra-ciclo mas gosto. Gosto menos quando durante este mês me perguntam todos os dias "quando tiro férias?" e só ouvimos ou lemos coisas como "vou de férias", " boas férias", "finalmente férias". Não sei quando é que foi decretado, mas em Agosto o país pára, não há notícias, a televisão passa programas ainda piores e o pensamento colectivo torna-se ainda mais pastoso. Valham-me os gelados, as sangrias, os mojitos, coca-colas carregadinhas de gelo e limão e as esplanadas ao fim do dia. 


Assim Agosto talvez já não me soubesse tão mal...