terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Benigno

Para mim o ano novo só começou verdadeiramente no dia 3 de Janeiro. A sexta-feira em que fui à consulta com a médica que me operou para saber o veredicto final, ou seja, se o tumor de cerca de 3cms que me foi extraído do peito no dia 20 de Dezembro era benigno ou não… E era! Nunca duvidei disso mas no nosso íntimo insistem em vir ao de cima aqueles e se… assustadores. Tudo começou em Outubro deste ano, quando por mero acaso ao passar creme no peito senti uma espécie de caroço na mama esquerda. Ainda andei ali uns dias a pensar que podia ser só imaginação minha, que provavelmente seria qualquer coisa passageira relacionada com a menstruação, mas quanto mais examinava mais se concretizava a certeza de que aquilo não estava ali antes e que não devia estar agora. E se estava eu ainda não tinha dado por isso. Esse foi um erro crasso. Eu nunca tive o hábito de fazer o tão aconselhado auto-exame à mama, e nunca consegui responder quando todos os médicos me perguntavam quando tinha surgido o nódulo. E isso é preocupante. Depois da negação, lá fui à ginecologista que confirmou que sim senhora, ali estava um nódulo e já com mais de 2cm pelo que sentiu. Mas desde logo me tranquilizou que por ser móvel e indolor o prognóstico era positivo e provavelmente não seria nada de grave. Seguiram-se ecos mamárias, mamografias e vim a descobrir que na mama direita também tinha outros dois pequenos nódulos, esses quase imperceptíveis ao toque. Fui encaminhada para uma médica especializada na área das doenças mamárias (senologia) que me disse que o nódulo era para ser retirado o quanto antes, sobretudo pelo tamanho porque também lhe parecia benigno. Uma semana depois da consulta, estava eu vestida com uma bata verde e uma toca, a tremer que nem varas verdes à espera de entrar no bloco operatório, receber a anestesia geral e entregar-me de corpo e já agora alma, às mãos dos médicos. Quando acordei da anestesia a primeira coisa que fiz foi sentir se ainda tinha o peito. E estava tudo no sítio. É que se há coisa que aprendi é que nestas coisas quanto menos pessoas souberem melhor. Porque muitas delas só dizem babuseiras, e nem creio que sejam assim tão bem intencionadas… Eu já não aguentava ouvir nem mais uma história de uma prima de um cunhado do meu irmão por parte de pai, que tinha tido um cancro de mama, ficado sem o peito, feito quimioterapia, perdido o cabelo, o marido etc. etc. Os piores cenários. Quando esse nem sequer era o meu caso. Mas automaticamente toda a gente assumiu que eu, coitadinha, tivesse cancro de mama quando esse diagnóstico ainda estava longe e era improvável. Este ruído de fundo, as perguntas e constantes opiniões começaram a aumentar a minha já natural ansiedade e andei algum tempo com os nervos à flor da pele. Irritada por tudo, com uma resposta ríspida sempre na ponta da língua. Queria o resultado para que me deixassem em paz. E ele lá chegou, e no relatório da anatomia patológica estava lá mesmo escrito "tumor benigno", fibroadnoma como lhe chamam os doutores. Comecei assim o ano da melhor forma. A sentir-me mesmo bem, a recuperar bem da cirurgia e a retomar gradualmente a minha vida normal. É incrível como não damos valor às pequenas coisas, como podermos estar debaixo de um chuveiro a tomar um banho quente sem condicionantes. Estive cerca de duas semanas a ter de tomar o que eu chamava "banho às prestações", com plásticos para não molhar o penso. E também me custou muito estar dependente dos outros. Ter de estar sempre a pedir que me passeassem o cão e que me ajudassem na lida da casa. Nisso como já sabia, tenho simplesmente a melhor mãe do mundo. E muito ficou por dizer mas ainda estou a processar o que me aconteceu e a regressar lentamente às rotinas de trabalho e casa. E agora tudo me parece diferente, tudo me parece muito melhor, muito mais valioso. 

Bom Ano


2 comentários:

  1. Lamento muito, não sabia... fico tão feliz por ti, por poderes começar agora 2014 com força redobrada!

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